HISTÓRIA DO AGRUPAMENTO
O DIA EM QUE A ESCOLA SE PASSOU A CHAMAR DE ROMEU CORREIA
«Nesse dia, Romeu Correia completava 78 anos. A escola despertava de maneira diferente. Cheirava a húmus regado pela chuva desordenada. A alegria despontava nos dedos de cada um. Os ânimos agitavam-se nas pedras das calçadas, os lábios estendiam-se na ansiedade do diálogo. Eram catorze horas e trinta minutos, unidos por esta força de cantar quem está vivo (desacostumados, é certo, de gritar assim. Nem só os que a vida ceifou merecem louvores de cânticos).
Na mesa a Presidente do Conselho Directivo, a Presidente da Câmara de Almada, o escritor Alexandre Castanheira (autor da biografia de Romeu Correia), o engenheiro Neves da C.A.E., Cruz Pereira, director regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo e o homenageado Romeu Correia.
A emoção crescia lânguida, palpitante serenando às mãos palmas de louros engrandecidas. Espreitavam-se sorrisos, lágrimas dependuradas, envergonhadas por caírem.
Os olhos centravam-se no homem que veio mudar o rumo da nossa história. As palavras saíam comovidas, pausadas, directas. É sobretudo aos jovens que se dirigiam – actores do nosso palco quotidiano. É para a cidade que nos acolhe – A(l)mada.
Aqui vos deixamos uma fotografia instantânea para que se retenha na memória de cada um, o dia em que a Escola do Feijó se passou a chamar de Romeu Correia. E para que não esqueçam as palavras (operárias da nossa língua) e a generosidade de um homem que nos abraçou:
Fátima Rosa in FeiJovem, jornal da Escola Secundária Romeu Correia, Dir. Oficina da Comunicação, ano III, n.º7, Março 1996
BIBLIOGRAFIA
1947 | Estreia-se na literatura com Sábado sem Sol, livro de contos, cuja edição virá a ser parcialmente apreendida pela PIDE
1948 | Trapo Azul, romance
1950 | Calamento, romance
1952 | Gandaia, romance
1953 | Casaco de Fogo, romance
1955 | Desporto-Rei, romance
| Isaura, romance
1957 | Sol na Floresta, teatro
1961 | Bonecos de Luz, romance
1962 | O Vagabundo das Mãos de Oiro, teatro – “Prémio da Crítica”
| “Prémio Casa da Imprensa”
1965 | Bocage, teatro
1975 | “Prémio Casa da Imprensa”
1976 | Um Passo em Frente, contos – “Prémio Ricardo Malheiros”
1980 | Grito no Outono, teatro
1982 | O Tritão, romance
| Tempos Difíceis, teatro
1983 | O Andarilho das Sete Partidas, teatro
1984 | “Prémio de Teatro 25 de Abril”, atribuído pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro
1989 | Cais do Ginjal, novela
1995 | A Palmatória, teatro
ROMEU CORREIA
(Cacilhas, 17 nov 1917 – Almada, 12 jun 1996)
“Nasci numa terra em que o povo tem muita força.”
Filho de Almada nascido em Cacilhas, promotor do associativismo almadense, fundador da Biblioteca Popular da Academia Almadense, contador de histórias, conhecido de todos e conhecedor de tudo e de todos.
“Cultura é a liberdade de se saber que se é livre (…)”
Amante da escrita, romancista, novelista, dramaturgo, colaborador na imprensa escrita, amplamente traduzido, distinguido e premiado. Explorador do corpo, praticante de atletismo, ginasta, campeão nacional de atletismo e de boxe amador.
BIOGRAFIA
Alexandre Flores define este grande homem como «simples, meigo no sorriso quase infantil, na doçura expressiva dos seus olhos. Por vezes orgulhoso, de trato oscilante entre uma natural afabilidade e uma aparente rudeza, é vibrátil na sua timidez, onde a tristeza e a alegria se entrelaçam, envergonhadas».
Quem o conheceu testemunhará estas observações. Para aqueles que frequentam a escola com o seu nome, e que nada ou pouco sabem sobre ele, aqui deixamos alguns apontamentos:
Romeu Correia nasceu no dia 17 de Novembro de 1917, em Cacilhas. No ano seguinte os pais mudaram-se para o Cais do Ginjal. Teve três irmãs – Maria Antonieta, Ofélia e Venância. Em 1924, Romeu Correia e Ofélia são internados no Instituto Câmara Pestana, em Lisboa, sofrendo de difteria. O escritor perde a irmã alguns dias mais tarde. Em 1927 os pais separam-se ficando Romeu Correia a viver com os avós paternos no Cais do Ginjal.
Em 1933, Romeu Correia faz a sua primeira competição desportiva: prova de natação entre Arealva e Cacilhas, organizada pelo Ginásio Clube do Sul e inicia-se no mundo desportivo, tomando contacto com jovens atletas almadenses e passando a participar em vários torneios de atletismo. Mais tarde, em 4 de Outubro de 1936 é feito sócio de Mérito do Clube de Futebol «Os Belenenses» devido aos altos serviços prestados. A paixão pelo desporto vai crescendo e pratica pugilismo no Grupo Desportivo «Os Treze». Entretanto, já trabalhava, primeiro na firma C. Santos Lda. e depois nas docas.
Fica apurado para o serviço militar e assenta praça como soldado no Batalhão de Sapadores dos Caminhos-de-ferro, no Entroncamento.
A veia de escritor está latente e inicia-se na dramaturgia escrevendo peças de cariz carnavalesco, encenadas e interpretadas por ele, seguindo-se-lhe outras com especial relevo para Razão, drama em três actos.
O atletismo não fica, porém esquecido; vai ganhando provas e passa a representar o Sporting Clube de Portugal em atletismo.
Em 1941 Romeu Correia trabalhava no Banco Nacional Ultramarino, em Torres Vedras. Neste ano e local, começou a viver a sua futura mulher, Almerinda Carreira. Nesta cidade toma contactos com o poeta Alberto Jerónimo que o incentiva e encaminha na vida literária. Ganha o primeiro prémio dos Jogos Florais Acelista, na modalidade «Novela Desportiva». Em 1942, casa-se com Almerinda Carreira, ano em que a mesma inicia a sua no atletismo representando o União Sport Clube Almadense.
O casal regressa a Almada e Romeu Correia escreve, encena e interpreta uma comédia em dois actos, Águas de Bacalhau, no novo Teatro da Academia Almadense.
A actividade literária nunca foi posta de lado, bem pelo contrário; a par e passo com a actividade desportiva. Almerinda acompanha-o e vence o primeiro título em atletismo em 1943.
Muitas vitórias se seguiram e muitas obras também. Excelente dramaturgo, romancista, contador de histórias, orador, dinamizador e desportista, Romeu Correia mereceu vários prémios literários, foi sócio honorário e de mérito de vários clubes desportivos e colectividades de cultura e recreio em Portugal e no Brasil. Foi possuidor da Medalha de Ouro da cidade de Almada. Junta-se-lhe a Escola Secundária de Romeu Correia e o Fórum Romeu Correia.
Não estando já entre nós, muitos puderam ter o prazer e o orgulho de testemunhar a homenagem feita a este HOMEM no dia em que a Escola Secundária do Feijó se passou a chamar Escola Secundária de Romeu Correia, no dia 17 de Novembro de 1995 (dia do seu aniversário), no Auditório do Complexo Municipal dos Desportos.